Diferente

A diferença é que a simplicidade e a monotonia dos dias me encantam.

Porque, já cansei de me diferenciar.

Nunca fui normal, quero experimentar algo que não seja o diferente.

Porque, o que é normal para a maioria, é diferente para mim…

Sabe o que difere?

É que os normais sonham ser diferentes.

E os diferentes sonham em experimentar o normal.

Não para sempre, claro, afinal “ser diferente é legal”.

Um dia li que os loucos é que são os normais, e que as pessoas mais brilhantes eram diferentes, renegadas, anormais, loucas, etc.

O que nos faz ver que, no final, nós é que ditamos os padrões do que nos convém, como humanidade.

Imagine pessoas totalmente diferentes, com pensamentos totalmente diferentes, sonhos, ambições…

A única coisa que pode ser igual em uma sociedade — que tenha embasamento obviamente humano — são os direitos de cada indivíduo.

Sabe, às vezes eu queria viver um pouquinho do “normal”.

Tristeza normal, felicidade normal, um emprego normal, uma vida normal, tocar algum instrumento, ler um bom livro…

Sei lá, não é que ser diferente é muito difícil, é que todos somos, e só os que tem consciência disso sabem.

Falarei uma coisa que nunca falei antes — nesse caso, escrevi.

Porra nenhuma! O que quero dizer é que na minha mente, o cenário ideal de felicidade e paz não tem a ver com dinheiro.

Um apartamento — não precisa ser muito grande —, uma cozinha aconchegante e equipada com prensas de café colonial (principalmente os italianos), uma sala aconchegante, uma TV bacana, um Vídeo-game, um sofá grande que seja confortável e que abrigue uma coberta em dias muito frios…

Um estúdio/escritório de trabalho para mim e para ela.

E ela do meu lado, usando uma das minhas camisas, só de calcinha, passando um dos vários tipos de café…

O sol batendo na janela no entardecer, uma luz alaranjada convidativa, sem barulho de carros, apenas o vento da chuva que se aproxima, um ou dois gatos cochilando do lado de um cachorro, uma música ambiente bacana — talvez Terno Rei — , e um pouco de vinho numa taça, com uma garrafa pela metade na mesa de centro da sala, do lado dela, dois livros, um de descanso e um de estudos técnicos, talvez sobre arte, talvez um artigo publicitário, ou qualquer coisa referente ao trabalho.

Esse clima silencioso e agradável precede uma viagem junto com ela que, ainda está passando o café — me provocando com aquelas pernas lindas vistas de trás — , uma viagem de inverno, para alguma cabana numa floresta, com fogão a lenha e uma banheira de água quente, doces e comidas deliciosas, principalmente as receitas italianas da minha nonna…

Esse é meu sonho, minha paz, minha motivação, nele não há carros importados, nem jatinhos particulares, nem mesmo milhões de dólares investidos… Tem apenas paz, simples e alegre, silenciosa, mas que diz muito.

Nunca havia externado isso, não sabia como fazê-lo, agora sei — e dignamente.

Isso não me torna normal, tampouco diferente, me torna eu, apenas eu.

Da mesma forma que água molha, sol esquenta, cachorro late e gato mia.

Da mesma forma que, você é você.

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